Os dias 10 e 11 de junho foram de conhecimento, reflexão e muitas ideias no Encontro Lixo Zero (ELZ), em São Paulo. O evento reuniu uma comunidade ativa e diversa, com pessoas de diferentes áreas, empresas e setores, para falar sobre os principais tópicos relacionados à emergência climática.
A programação do ELZ transitou entre teoria e prática para debater o cenário atual e algumas das soluções já desenvolvidas, chamando toda a sociedade civil, além de organizações públicas e privadas, para conter os danos do aquecimento global por meio de uma gestão eficiente de resíduos sólidos.
Este ano, o Instituto Lixo Zero e a ABRAPS (Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável), organizadores do ELZ, optaram pelo modelo híbrido, transmitindo alguns dos painéis on-line. O acesso à toda a programação foi gratuito.
Encontro Lixo Zero SP 2022: painéis de destaque
Nos dois dias de evento, o Encontro Lixo Zero 2022 realizou 19 painéis e oficinas. Os debates trataram de temas necessários e, muitas vezes, polêmicos. De economia circular, moda e desperdício de alimentos a créditos de carbono e carros elétricos. Informações por perspectivas variadas, que mostraram a urgência de ações eficazes, os desafios desse processo e os cases de pequenas e grandes empresas que já estão fazendo a diferença. Nas oficinas, as práticas de reutilização, compostagem e reciclagem ganharam abordagens educativas e lúdicas.
Para resumir um pouco dessa extensa programação, fizemos um compilado do que rolou em alguns painéis. Confira a seguir!
Economia circular e reciclagem inclusiva
O evento começou com a apresentação da Tese de Impacto Socioambiental em Reciclagem, desenvolvida pela Artemisia, em parceria com a Gerdau, que deixou evidente a potência transformadora da reciclagem. O estudo não só reforçou a importância crucial dessa área na gestão de resíduos, mas também apontou oportunidades para investir em negócios de impacto no segmento.
Logo na sequência, o tema foi aprofundado no painel “Caminhos para a economia circular por meio da reciclagem inclusiva: o papel da inovação e dos negócios de impacto”, que abordou possíveis ações de logística reversa dentro da perspectiva de responsabilidade social. O debate contou com os pontos de vista de Claudia Ferris, da Circulabi (Gerdau), Patricia Rosa, do Cataki, Roger Koeppl, da You Green, Rodrigo Brito, da Coca-Cola, e Gustavo Fonseca, da Boomera Ambipar.
Grandes marcas e ações lixo zero
Quais são as metas de curto, médio e longo prazo das grandes empresas para reduzir a geração de resíduos? Essa é uma pergunta que precisa ser feita para que possamos avançar com medidas efetivas para lidar com a emergência climática. Afinal, grandes empresas causam grandes impactos – e podem canalizar essa força para potencializar mudanças significativas.
No painel dedicado ao tema, a embaixadora do Instituto Lixo Zero e coordenadora do GT Lixo Zero da Abraps, Flávia Cunha, direcionou a pergunta a três empresas, abrindo um diálogo sobre como agir em cooperação com os consumidores para implementar ações lixo zero. As respostas vieram de Nayara Baccan Pereira, da Ambev, Patricia Mistura, do Grupo Heineken, e Ricardo Glass, da Okena, empresa B certificada de tratamento de efluentes.
Sustentabilidade na embalagem plástica
O plástico foi criado para facilitar e baratear as embalagens, mas se tornou um problema de dimensões quase irremediáveis. De acordo com o Atlas do Plástico, a fabricação de plástico pode representar de 10% a 13% do limite estimado de emissões de carbono para que o aquecimento global se mantenha abaixo de 1,5 graus Celsius. Além disso, precisamos enfrentar a poluição dos oceanos, os microplásticos e todos os químicos contaminantes liberados pelo plástico.
Um dos maiores desafios da sociedade contemporânea é a necessidade de ressignificar de forma drástica a relação com o plástico. As empresas, que utilizam o material em volumes muito grandes, possuem um papel determinante nos rumos dessa transformação. O painel “Sustentabilidade na embalagem plástica: dando voz a quem tem responsabilidade” discutiu abertamente quais são os caminhos possíveis para reverter o quadro em que estamos e priorizar o uso de embalagens sustentáveis.
Com moderação de Mariana Bombonato Moraes, uma das irmãs idealizadoras do projeto Verdes Marias, a conversa teve a participação de Camile Oliveira, diretora executiva do 13:20:HUB, Maria Eduarda Bezerra, embaixadora jovem do movimento Break Free From Plastic, Marcelo Montenegro, da Fundação Heinrich Böll no Brasil, e Vitor Fontana Fernandes, da P&G Brasil.
Movimento lixo zero na periferia
Em lugares carentes do básico, é preciso encontrar caminhos para falar sobre sustentabilidade sem se apoiar na lógica elitista de consumo. Ao mesmo tempo, é nas periferias que os impactos socioambientais mais se manifestam e, por uma questão de sobrevivência, as pessoas criam soluções que funcionam dentro da própria realidade.
No painel “Heróis sem capa: a perifa mostra a que veio”, quatro ativistas compartilharam experiências com projetos que impulsionam a sustentabilidade na periferia de São Paulo. Cristiano Cardoso, do Recifavela, Franz Thomas e Maria Conceição, do Navegando nas Artes, Sara Cristina, do Savana Brechó, e Anne Caroline Barbosa, catadora de materiais recicláveis, falaram sobre sustentabilidade a partir da ótica da educação e da geração de renda.
Case Braskem Trashin: inovação aberta na gestão de resíduos
Em 2021, a Trashin foi uma das startups selecionadas para participar do Braskem Labs, programa de aceleração da Braskem. A empresa atua com tecnologia para projetos de logística reversa e gestão de resíduos 360º de diversos tipos de materiais, oferecendo rastreabilidade dos resíduos até a destinação adequada, dados em sistemas on-line e cashback aos geradores sobre a venda dos resíduos.
Durante o ELZ, o sócio-fundador e diretor de operações da Trashin, Rafael Dutra, conversou com, Barbara de Alencar, da Braskem, e Ana Aranha, do Quintessa, sobre o processo de aceleração e como a inovação aberta pode ser aplicada no desenvolvimento de soluções para gestão de resíduos.
Design circular: biomateriais e materiais residuais
A emergência climática questiona o modelo atual de produção e consumo, direcionando o mercado a pensar em alternativas para reduzir a geração de resíduos. Uma das frentes do design circular propõe o uso de materiais residuais e de biomateriais, tema do painel moderado por Carolina Piccin, fundadora do MaterialLAB Design e criadora da primeira materioteca de produtos sustentáveis para arquitetura e design.
Também participaram do bate-papo Eduardo Bittencourt Sydney, sócio-fundador da Mush, plataforma biotecnológica de transformação de resíduos agrícolas em materiais para diversas aplicações, e Raquel Finotti, fundadora da Talpa Design e criadora de mobiliários circulares.
Design de eventos regenerativos
Uma visão regenerativa da produção de eventos envolve pensar o cenário climático e valorizar a potência coletiva de pessoas que confraternizam com um propósito em comum. Mas como é possível colocar essa proposta em prática e deixar um legado positivo para o evento e as marcas patrocinadoras? Nada melhor do que ouvir de quem faz – e foi isso que aconteceu no painel “Design de eventos regenerativos”.
Moderado por José Marques, biólogo e organizador de eventos há mais de 30 anos, o bate-papo teve a presença de Juliana Aranega, meeting designer, conselheira na FECOMERCIOSP e presidente da MPI Brazil, e Daniel Costa, profissional de eventos, coordenador da norma ISO 20121 e consultor de sustentabilidade.
Na expectativa para 2023…
Por falar em eventos regenerativos, o Encontro Lixo Zero SP, mais uma vez, deu exemplo de como mobilizar pessoas, empresas e poder público em uma agenda pela sustentabilidade. Nos bastidores, uma equipe incansável, liderada por Flávia Cunha e Rodrigo Sabatini, fez o evento acontecer. Já estamos esperando para ver o que essa turma vai preparar para o ano que vem!