Duas palavrinhas esquisitas podem ajudar você a diferenciar o que é beleza limpa de outros conceitos de beleza: atóxico e biotecnologia.
Atóxicos são produtos livres de substâncias nocivas – como sulfatos, parabenos, formaldeído (comprovadamente carcinogênico), alumínio, chumbo, entre tantos outros venenos para a saúde – e formulados sem agentes reconhecidamente poluentes, como por exemplo, as substâncias petroquímicas (plásticos, parafinas, etc). Cosméticos atóxicos podem ser naturais, orgânicos, cruelty-free e veganos, ou não. A recíproca também é verdadeira.
Produtos com ingredientes sintéticos criados em laboratórios por meio de inovação biotecnológica, podem se enquadrar na categoria de beleza limpa desde que sigam, no maior grau possível, os princípios de biocompatibilidade com o corpo e com o meio ambiente. Por isso mesmo são compreendidos como cosméticos e itens de higiene com fórmulas mais seguras tanto para o ser humano quanto para a natureza. Nem todo produto biotecnológico, porém, é necessariamente atóxico, orgânico, vegano ou cruelty-free, mas se o bioproduto é atóxico, não testado em animais e feito da forma mais sustentável possível, pode se encaixar como clean beauty.
Se pararmos para pensar, escolher produtos de beleza limpa faz bastante sentido. A pele é o maior órgão do nosso corpo. A pele do Planeta é a terra. Se para cuidar de uma detonamos a outra, a beleza, enquanto conceito, vira pele morta.
Se a beleza é limpa, não é POP
Saúde e sustentabilidade norteiam a produção de cosméticos limpos, que buscam preservar ao máximo os benefícios da natureza – ativos de plantas, minerais e microorganismos – sem causar a exploração impiedosa dos recursos naturais finitos de nosso planeta.
Infelizmente, a produção tradicional de cosméticos e produtos de higiene e limpeza, especialmente em larga escala, se utiliza de milhares de substâncias químicas nocivas, inclusive derivados petroquímicos. Tecnicamente conhecidos como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), esses materiais não se decompõem facilmente e podem levar muitos anos se acumulando e causando danos permanentes à saúde do corpo e do meio ambiente.
Exemplos já bem conhecidos de POPs são as microesferas de plástico (partículas de polietileno muito utilizadas em esfoliantes faciais e corporais), ceras parafínicas, filtros UV, corantes artificiais, neutralizantes, entre mais de 10 mil substâncias químicas que impactam de forma perene e negativa os ecossistemas globais e os ecossistemas da pele e outros órgãos vitais, de humanos e animais.
Com a biotecnologia, a indústria cosmética tem o potencial de replicar diversos benefícios da natureza em larga escala, sem detonar o planeta. A biocompatibilidade oferece maior segurança e a confiança de que o corpo humano e o meio ambiente poderão aceitar e (re)absorver os ativos desses produtos sem prejuízos para ambos.
Se a beleza limpa é atóxica e biocompatível, obviamente ela passa longe de POPs.
Como a falta de informação pode manchar a imagem da beleza limpa
Você tem noção do tamanho da indústria de higiene pessoal, maquiagem e produtos para cabelos no mundo? E no Brasil? É gigante. Bilionária. E os impactos desse consumo também.
Agora, pense na quantidade de químicos nocivos circulando no planeta! Solidarize-se com os milhares de animais que foram (e são) submetidos a testes dolorosos e cruéis para aprovar formulações com ingredientes tóxicos como sendo ‘seguros’ para nós, humanos.
Reflita sobre a quantidade de resíduos que você não vê, descendo pelo ralo e contaminando o solo, lençóis freáticos, nascentes, lagos, rios e mares; ingredientes artificiais e resíduos químicos sintéticos e petroquímicos poluindo florestas, ecossistemas completos e o ar que respiramos.
Por isso a beleza limpa vem como um respiro, com a energia desejada para provocar as mudanças macro que precisamos ver no mundo. E um passo essencial nessa caminhada é a transparência: informação clara nos rótulos, listas de ingredientes completas, processos reconhecidos, certificações.
Sem isso, o segmento esbarra no ‘greenwashing’ – traduzido por ‘lavagem verde’ – artimanha relacionada ao marketing e utilizada por organizações com o objetivo de passar uma imagem ecologicamente responsável dos seus produtos ou serviços, mas que na realidade não é bem assim. O famoso ‘bonito pra gringo ver’ com apelo eco e sustentável.
Embora os produtos de beleza limpa (ainda) não tenham regulamentação específica, já é comum equiparar o segmento com itens seguros e eficientes. Estamos falando de cosméticos, de produtos de higiene pessoal, e também de processos e embalagens. De marcas e empresas preocupadas em criar produtos que gerem o mínimo (ou até nenhum) impacto no planeta e na saúde de quem os consome. De uma beleza limpa 360º.
Beleza limpa: melhor pra mim, melhor pra nós
Existe o consenso que, cada vez mais, consumidores buscam por marcas com menos ingredientes nocivos (“better for me”) e por empresas que façam mais pelo planeta (“better for we”). O crescente desenvolvimento de produtos de beleza limpa, saudável, verde e sustentável está aí para provar. E a biotecnologia é a grande aliada desse movimento.
Sem sulfato e sem parabenos, livre de crueldade, feita de fontes sustentáveis e ecologicamente responsáveis. Existem centenas de marcas e alguns grandes nomes do mercado investindo para ampliar a oferta do universo da beleza limpa.
Há muita pesquisa acontecendo nos bastidores, em laboratórios públicos e privados, e nas universidades, para ampliar a gama de ingredientes limpos, aprimorar processos, alavancar o alcance dessas iniciativas, permitir maior transparência nas informações (com destaque para os rótulos e a comunicação), a validação técnica por meio de certificações e índices classificatórios que possam facilitar a escolha das pessoas por este ou aquele produto.
O futuro dos produtos de beleza sustentáveis depende bastante da biotecnologia, que é capaz de gerar ingredientes naturais em condições sustentáveis, com o auxílio de bactérias, leveduras e fungos filamentosos. Por meio da reprodução celular é possível produzir toneladas de ativos em menos tempo e com uma pegada de carbono menor.
Inovações não faltam. Já é possível, por exemplo, produzir tensoativos e polietilenoglicóis (PEGs) a partir de fontes 100% orgânicas para fazer frente às mudanças climáticas. Originalmente derivados de petroquímicos ou oleoquímicos, e presentes em muitos produtos de beleza, ao eliminar o carbono fóssil das cadeias de valor de produtos cosméticos, o mercado de beleza favorece a nossa saúde e a do planeta, contribuindo também para ajudar a deter o aquecimento global.
7 aspectos da beleza limpa para você passar a limpo
- Saúde: produtos livres de ingredientes tóxicos e não confiáveis para a saúde, seja para aplicação, ingestão e contaminação cruzada.
- Sustentabilidade: produção com menor uso ou uso mais eficiente de água, menor necessidade de extração/exploração de terras, causando menor impacto nos ecossistemas globais e menos (ou zero) lixo e resíduos nocivos.
- Inovação: a biotecnologia favorece a produção em larga escala, com ingredientes obtidos de fontes vegetais renováveis, de minerais abundantes na natureza ou de processos circulares; diminui a pegada de carbono da produção.
- Design: menos embalagem, menos desperdício, menos plástico; design minimalista que utilize materiais inovadores, biodegradáveis, recicláveis, reutilizáveis, refiláveis, com a possibilidade de logística reversa e descarte não tóxico.
- Comércio justo: toda cadeia produtiva é responsável e recompensada de forma justa; considera todos os agentes envolvidos, desde os agricultores, extrativistas e artesãos, de forma a promover maior equidade socioeconômica; empoderamento de mulheres e também de minorias em situação de desvantagem social.
- Ética: segue uma ética multiespecista, que protege a saúde do ser humano e rejeita a experimentação em animais! Busca garantir, dentro do possível, por meio de testes in vitro ou ex vivo, as reações adversas à saúde das pessoas e do meio ambiente.
- Certificações: feita por órgãos técnicos privados, independentes, nacionais e internacionais, com transparência e objetividade, que colaboram para a formação de uma ‘cultura’ consumidora consciente e bem informada.
A produção tradicional de cosméticos requer muitos recursos, como área de cultivo, água, energia e trabalho humano. A demanda por mais saúde e mais consciência ambiental, para uma indústria sustentável, a beleza limpa encontra nos ingredientes sem toxinas e na biotecnologia suas duas maiores aliadas. Uma terceira aliada? Você, que consome com consciência.
Pesquise sempre. Respire fundo. Escolha fazer parte dessa mudança.