O papel da Cannabis na desconstrução desse mito.
Por Mariana Lanat, dermatofuncional, especialista em pele sensível e inflamada.
A pele é a maior barreira de proteção natural que o nosso organismo possui. Quando essa barreira é mantida saudável e íntegra, a perda de água da pele para a atmosfera (TEWL) é mínima, permitindo que os mecanismos de regeneração e cicatrização da pele funcionem com maestria; a produção de sebo e suor é regulada e, o manto lipídico, que é uma combinação dessas 2 secreções, atinge uma composição ideal que, além de fortalecer a função barreira, favorece o estabelecimento de uma microbiota cutânea saudável e fundamental para a imunidade local.
Qualquer desequilíbrio desse sistema é associado a uma pele que está sempre sensível e inflamada e ao aparecimento e agravamento de “doenças” dermatológicas, como acne, dermatite atópica, psoríase e rosácea. (Castillo et al., 2019).
Manter a integridade da barreira cutânea deveria ser um assunto muito mais relevante e abordado pelos profissionais de saúde e divulgado pelos meios de comunicação, principalmente quando consideramos a quantidade crescente de pessoas com a pele sensível e inflamada, que acabam sofrendo com ciclos infinitos de altos e baixos da pele desnecessariamente, por não terem recebido orientações sobre como manter a integridade da barreira cutânea e a importância disso para o sucesso do tratamento.
Na minha experiência clínica, fundamentada em 14 anos de consultório, atendendo pessoas com a pele sensível e inflamada, é visível a diferença na capacidade de regeneração e cicatrização da pele, quando o paciente passa a adotar uma rotina de skincare, incluindo hábitos e formulações que foquem na recuperação e fortalecimento da integridade da barreira cutânea, comparado com o tratamento dermatológico convencional, que implica no uso de sabonetes, cremes com corticóides e imunossupressores, cujo mecanismo de ação prejudica a integridade da barreira cutânea e a formação de uma microbiota cutânea saudável ( J Allergy Clin Immunol 2006).
Mudanças de hábitos simples, como deixar de limpar a pele com sabonete e passar a utilizar a água na temperatura mais fria possível durante o banho, ao invés de água morna ou quente, já causam uma melhora significativa da barreira cutânea em poucos dias, independente do grau de sensibilidade ou inflamação que a pele esteja apresentando.
Mas também é necessário estabelecer uma rotina de cuidados diários mais natural e gentil com essa pele, e fazer uso de formulações elaboradas com ingredientes que consigam suplementar a deficiência de ácidos graxos, aminoácidos, glicosaminoglicanos e possuam uma ação corticoide-like, calmante e hidratante para acelerar a desinflamação, regeneração e recuperação da beleza natural da pele.
Nos últimos anos, laboratórios de vários países do mundo, passaram a se dedicar ao desenvolvimento e produção de ingredientes com as funções citadas acima para atender a necessidade de uma pele sensível e inflamada.
Muitos desses ingredientes estão disponíveis no Brasil, mas as pessoas que precisam ter acesso à eles, dependem de profissionais de saúde atualizados e esclarecidos, que saibam prescrever fórmulas com uma combinação sinérgica destes ingredientes, considerando o grau de sensibilidade e inflamação da pele em questão, além de outros fatores externos que interferem no comportamento dessa pele.
Esse cenário explica a crença muito bem estabelecida que “pele sensível, inflamada, dermatite, rosácea, psoríase não tem cura”. Vamos desconstruir essa crença? Então sigamos com a leitura!
Bem, dentro desse perfil de ingredientes, o canabidiol (CBD), é uma das opções que considero nas minhas formulações. Ele é um fitocanabinoide não psicotrópico extraído da planta Cannabis sativa, vulgo maconha/marijuana, bem estudado e manifesta múltiplas atividades, incluindo efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios. (Casares et al., 2020).
A descoberta de novas propriedades biológicas e farmacológicas dos canabinóides, propõem diversas indicações para seu uso diretamente na pele como modulador da resposta inflamatória, mostrando-se muito eficaz no tratamento de várias disfunções dermatológicas. (Casiraghi et al., 2020).
No último Congresso da American Academy of Dermatology, o uso do CBD foi reconhecido como um tratamento eficaz para problemas de pele como dermatite, psoríase e envelhecimento relacionado à inflamação.
Estudos evidenciaram que o corpo humano exibe um sistema endocabinoide (SEC) que pode se ligar e reconhecer os fitocabinoides, mais especificamente os compostos fenólicos terpênicos, como os presentes na estrutura química da Cannabis. (Oláh et al., 2016).
Esse reconhecimento da cannabis ocorre através dos receptores endocabinóides CB1 e CB2 espalhados por todo o corpo, e presentes, numa quantidade considerável , na derme e epiderme, especificamente nas glândulas sebáceas, sudoríparas, folículo capilar, melanócitos, células de langerhans e queratinócitos ((Baswan et al., 2020).
É muito importante ressaltar que, o receptor CB1, quando ativado, causa efeitos anti-inflamatórios, podendo regular doenças inflamatórias dependentes de célula T na pele. Já o receptor CB2, quando ativado, pode desencadear respostas inflamatórias.
Isso significa que, a depender da concentração utilizada em uma formulação de uso tópico, o CBD, que consegue modular a atividade sistema endocabinoide, pode ativar, antagonizar ou inibir os receptores CB1 e CB2 que, por sua vez, irão influenciar consideravelmente na regulação neuroimunoendócrina do funcionamento da pele e na sua homeostase (Atalay et al., 2020; Kupczyk et al., 2009) .
O CBD, em baixas doses, resulta em efeitos fisiológicos que promovem a saúde, com ação antioxidante, anti- inflamatória e neuroprotetora, mais eficaz que as vitaminas C para a pele. (Iffland; Grotenhermen, 2017)
Na minha experiência clínica, observo que o uso de 1% a 3% do CBD, numa formulação associado à outros ingredientes com ação anti-inflamatória, calmante, hidratante, que atuam como restauradores e fortalecedores da barreira cutânea, sem fragrância e conservante irritantes, causa uma redução na coceira e alívio imediato do desconforto da pele das minhas pacientes, o que favorece uma regeneração e cicatrização mais rápida e consequente superação dos ciclos de altos e baixos da pele.
Formulações como essa fazem uma grande diferença no tratamento da pele sensível e inflamada. Mas quero deixar claro que, para a resolução definitiva de uma queixa de pele acontecer, é necessário adotar um estilo de vida desinflamado, cujas escolhas diárias favoreçam a saúde intestinal, equilíbrio hormonal, alinhamento metabólico, sono de qualidade, fortalecimento emocional e bem estar.
Finalizo desejando que este texto ajude os pacientes e os profissionais de saúde a enxergarem que existe um caminho diferente para um tratamento de sucesso da pele sensível, inflamada, da dermatite, rosácea, acne, psoríase, e que essas novas informações contribuam, de uma maneira sempre positiva, para a vida dessas pessoas.
Para conhecer mais o meu trabalho e bater um papo a mais ou agendar uma consulta, é só clicar no meu nome.
Até já,