Uma pesquisa rápida pela expressão prazer feminino no Google apresentou aproximadamente 18.300.000 resultados em 0,62 segundos. O assunto, ainda considerado polêmico em pleno século XXI, ganha relevância a cada dia, tanto para as mulheres e as pessoas que se identificam com esse gênero, quanto para a sociedade, a formulação de políticas públicas afirmativas, a educação de jovens, e todo um representativo segmento de mercado voltado para sexual wellness, ou bem-estar sexual.
À medida que o mundo aprende, mesmo que com dificuldade, a lidar com a diversidade de gêneros, a pluralidade de etnias e a democracia sexual, empresas e empreendedores já despertaram para os prazeres (e as dores) de um mercado que não para de crescer, e que se especializa a cada dia.
Nesse processo, negócios que ainda tratam o prazer feminino sob a ótica masculina vão ficando para trás, e as iniciativas que priorizam o tesão das mulheres ganham espaço.
Do tabu à labuta: mulheres reivindicam o seu bem-estar sexual
Enquanto seguem se empoderando, as mulheres estão também se apoderando dos seus corpos, mentes, sentimentos e desejos. Questionadoras e exigentes, buscam informações e referências mais modernas sobre como despertar o seu prazer, livre de julgamentos, dogmas, opressões culturais e padrões machistas.
Com coragem e sensibilidade, desafiam o status quo do patriarcado que sempre as manteve oprimidas e em papel coadjuvante do prazer masculino.
As plataformas digitais, os movimentos de combate à violência contra a mulher, a luta pela equidade de direitos e as mobilizações em prol do amor e da beleza livre vêm trazendo o tema do prazer feminino a novos patamares, inclusive comerciais.
Marcas, produtos e serviços, como as terapias integrativas, que promovem o autoconhecimento do corpo, o desenvolvimento da sensualidade e a descoberta do prazer, ajudam a dar potência a esse movimento no Brasil e no mundo.
Quebrando os tabus há séculos impostos pela sociedade, machismo, religião e ciência, as mulheres estão mais do que nunca colocando a boca no mundo – e onde mais elas quiserem.
Quando o assunto é prazer, elas têm tudo na ponta da língua
Embora o prazer feminino ainda seja tratado com reserva e um certo tabu nas sociedades modernas, as mulheres estão cada dia mais à vontade para falar sobre sexo, orgasmos, liberdade da vulva, exploração do clitóris, relações poliamorosas, entre outros aspectos do prazer a dois, três, quatro… ou a sós. Com outras mulheres, homens ou pessoas do espectro LGTBQIA+.
Da adolescência à maturidade, elas estão revolucionando seus interesses e começam a se tocar, experimentar e vivenciar novas formas de dar e receber prazer. Melhor ainda, essa nova visão entende que o sexo, o prazer, a prática da masturbação, as experiências, fantasias e desejos são também uma questão de saúde mental, física e emocional.
A conquista do bem-estar sexual feminino é alavancada especialmente pela prática do autoconhecimento e do amor próprio. O cuidado com a pele, cabelos, unhas, a aceitação de suas qualidades únicas, o equilíbrio hormonal, uma boa alimentação e o sono também são fatores que impactam na sua libido e capacidade de sentir satisfação no sexo.
Entre outros desafios que as mulheres enfrentam estão a “desgenitalização” do ato sexual (que supervaloriza a penetração), a eliminação da vergonha estética da vulva (partes externas do órgão sexual feminino), o medo de ser julgada, a culpa religiosa e desequilíbrios hormonais.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) apontou que 55% das mulheres brasileiras não atingem o orgasmo durante a relação sexual. Embora o clímax seja importante, precisamos entender e aceitar que o prazer feminino não se reduz a um ou múltiplos orgasmos mas, sim, ao que o corpo de cada uma deseja e realiza.
Sexual wellness aquece o mercado durante a pandemia
Grandes empresas já acordaram para essa dimensão do universo feminino, abrindo espaço para as novas reflexões. A pandemia, claro, acelerou esse processo, especialmente porque forçou pessoas e casais ao isolamento, gerando muita ansiedade e estresse, falta de privacidade ou de tesão.
Estar em casa o tempo todo, sozinha ou acompanhada, alterou profundamente a rotina sexual das pessoas.
Gigante do varejo online, a Amaro agiu rápido. Em abril de 2021, percebendo o desafio do isolamento e seu impacto nas relações afetivas, buscou mais proximidade com seu público feminino e passou a oferecer mais de 50 itens sexuais em sua plataforma, ao lado de produtos de moda, beleza, bem-estar e casa.
Também nesse período surgiram produtos inovadores feitos por mulheres e para mulheres, com ingredientes pensados para o organismo feminino, fórmulas naturais, sem hormônios ou ingredientes tóxicos, e que prometem sensações e experiências estimulantes ao toque.
Dados do instituto Allied Market Research indicam que o segmento de sexual wellness já movimenta mais de US$74,7 bilhões em todo o mundo, e apontam que o faturamento poderá chegar a US$108 bilhões em 2027. O segmento feminino foi avaliado em US$30,5 milhões, com expectativa de crescimento para US$42,9 milhões nos próximos 5 anos.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (ABEME), em 2020 o volume de vendas de produtos eróticos no Brasil atingiu mais de R$2 bilhões.
O portal Mercado Erótico estima que, entre março e junho de 2020, mais de um milhão de vibradores foram vendidos, um aumento de 50% sobre o mesmo período no ano anterior.
Dados da Loja Integrada (LI) – plataforma para criação de lojas virtuais gratuitas com mais de 2 milhões de e-commerces – mostram que no primeiro semestre de 2021 as sex shops registraram aumento de 146,53% nas vendas, em relação ao mesmo período do ano anterior.
Plataformas de conteúdo sensual pagas, como a Only Fans, auxiliam as mulheres a assumirem sua autonomia sexual. Cursos online como os da plataforma OMGYes oferecem temas urgentes para reflexão e aprendizagem. Vídeos ASMR (fenômeno na internet) causam sensações físicas de prazer e relaxamento. Podcasts mostram a perspectiva feminina dos relacionamentos, como a série PPKansada.
Audiobooks eróticos, óleos, massagens, técnicas de respiração, a popularização de movimentos de dança como o ‘twerk’ do funk, danças ancestrais femininas, rituais de iniciação ao sagrado feminino, técnicas do tantra, pompoarismo, pole dance exótico e uma enorme gama de opções terapêuticas estão à disposição das mulheres que desejam se autoconhecer e descobrir seu prazer. E também daquelas que querem empreender.
A grande aposta é investir na capacidade da mulher de vivenciar prazer em todas as 5 dimensões sensoriais (tato, visão, audição, olfato, paladar) combinados à sexta dimensão que as mulheres precisam valorizar ainda mais: a sua intuição.
Pornografia com “f” de… feminista
A erotização e a fantasia têm papel importante para a saúde sexual feminina.
Pesquisa do Instituto Nielsen revelou que ao menos um terço dos visitantes de sites de filmes pornô são mulheres. 76.13% dos empreendedores do mercado erótico que responderam a essa pesquisa eram mulheres. Um levantamento do canal Sexy Hot no Brasil afirma que 24% dos assinantes são do sexo feminino.
Embora a pornografia tradicional não represente o ideal do prazer feminino, visto que a maioria das produções são escritas, dirigidas, protagonizadas e conduzidas por homens, mulheres também já estão se posicionando nesse universo. E liderando uma revolução.
Erika Lust, por exemplo, se incomodou com o que via: filmes machistas que objetificam a mulher. E começou a produzir filmes pornôs que respeitam o desejo e a satisfação feminina.
Trocou a misoginia dos roteiros por narrativas afirmativas sobre mulheres, seus corpos e o erotismo feminino. Aos 45 anos, a produtora sueca controla um império comercial. Em 2020, sua empresa de filmes adultos por assinatura faturou R$40 milhões.
12 perfis que dão voz aos desejos mais íntimos das mulheres
As discussões sobre sexualidade feminina ganharam protagonistas nas redes sociais. A diversidade e pluralidade nas suas abordagens individuais ampliaram os debates para outras dimensões como a arte, medicina integrativa, responsabilidade afetiva, potência energética, sacralidade feminina, intimidade emocional, saúde e estética íntima.